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01 julho 2009

Sépia

Recordar é viver, já dizia algum clichê cuja origem não consigo resgatar e tenho preguiça de pesquisar. Não é sem um certo ar misto de espanto, assombro e resignação que a gente olha para trás e começa a lembrar, num exercício que poderia se estender por toda uma tarde.

Lembro mais ou menos quando ia pra escolinha maternal, nos idos de 1980 e alguma coisa (sacou o drama da coroa?!) e não gostava. Pobrezinha de mim, era de poucos amigos - criança de apartamento, que preferia os quebra-cabeças, os livros de colorir e as brincadeiras imaginárias que os filhos únicos conhecem bem.


No colégio mesmo, gostava das aulas - odiava os recreios. Tenho na memória que lá pela 5ª série essa deixou de ser a regra, mas não consigo resgatar nada de relevante que mereça ser citado até o dia em que começou a aula do magistério - que foi quando eu pensei assim: ok, turma nova, ninguém me conhece mesmo, não sabem como eu sou, então posso fazer o que quiser daqui por diante. Foi uma fase vida-nova meio 'hey, look at me'. Era eu quem fazia a disposição das pessoas antes das provas para facilitar a minha logística de transmissão de cola. Era eu quem organizava as partidas de stop nas aulas de química. Era eu a melhor amiga e secretária geral da presidente do Grêmio Estudantil. Bem legais esses três anos.

Depois veio a faculdade, que todo mundo sabe se divide em 'Até o Bahia' e 'Depois do Bahia'. Aos que carecem de explicações, aponto apenas que foi só na segunda metade do curso que se formou o Conselho - com um prenúncio na sala do D.A., uma tarde de cerveja e açúcar, que acabou virando praxe - durante e depois de nossa gestão, aí em qualquer lugar do campus.

Naquela época foi que as coisas começaram a se diferenciar - novos hábitos, nova rotina, nova turma, nova condição no ranking dos economicamente ativos e assalariados. Acho que foram os dois anos com mais pique desde então e talvez para sempre. Mas aí veio um dia que a gente sentou em torno de uma mesa, na salinha do café, antiga sala das cópias do cetel, em frente à sala de aula da Branca, e lançamos a pergunta fatídica: 'tá, e agora?!" Estávamos saindo da faculdade.

Talvez nunca consiga descrever em palavras a tensão daquele momento, a aflição daquela constatação e o mega pânico - porque era tudo junto, misturado e confuso. Queria ter aproveitado mais. Queria que tivesse mais um semestre. Queria ter certezas e só tinha dúvidas.
Tinha, enfim, aquele peso de 'ter que fazer dar certo'. Mas, pior, era o peso do ponto de interrogação. E se não desse? Gente, e se não desse tudo certo?

Isso foi em dezembro de 2004 - passaram-se aí quase cinco anos de muitas curvas e poucas retas. Hoje pode ser que saiba tanto quanto naquela época. Humildade é uma lição que se aprende mais pela dor do que pelo amor. Queria ser, efetivamente, a metade boa do que eu pensava, dizia, projetava.

Tenho a impressão que as certezas não são bens cumulativos.
Não sei se decidi certo até aqui ou se daqui a meia dúzia de anos vou acordar frustrada com tais escolhas - a vida é feita de escolhas, me disse uma vez uma pessoa. Desse balancete ninguém pode escapar. Tudo em seu tempo.

Não sei por quais caminhos isso que a gente chama de vida, destino, acaso (como queiram) vai me conduzir e tampouco sei com quem vou beber minha cerveja - ou tequila, ou vinho - no fim de semana daqui a dez anos. Parte das pessoas mais legais que conheci foi na época da faculdade - a outra grande parte foi em função da profissão que aprendi nela. Saber-se 'não sozinho' ajuda.

Deu tudo certo?

Não sei. Dizíamos na época que sempre dá. Talvez tenha dado. Talvez esteja dando. Talvez eu descubra que não era nada disso. Quem pode avaliar isso - se nada é estaque, se tudo é processo? Nada foi tão bem quanto poderia ter sido ou nada foi tão mal quanto se temia? Se é tudo relativo, estado de espírito, momento, subjetivo demais, como se mensura? Como se sabe? Vai ver a gente não sabe nunca, e a tal serenidade tem menos a ver com o encontrar respostas e mais com o aceitar a perenidade das perguntas. Até porque, se a gente vai parar pra pensar, tem muito pouco que se possa fazer - além de fazer o máximo que se pode fazer.

4 comentários:

Caco disse...

Meu deus do céu, esse post é uma epifania.
Acabei de viajar no tempo e é definitiva minha sentença: foram especiais os nossos dias D.B. (Depois do Bahia).

Vou morrer de rir e chorar (o bipolar).

Beijos do fundo do baú
CACO

Rico disse...

gostei da foto, que bonita com seus poucos anos...ja que agora se diz velha pessoa...tb 25 anos...e eu que tenho 33?

Caco disse...

Pois é... eis a dúvida: qual é tu na foto???

Preta disse...

A segunda da direita pra esquerda na primeira fila. a de boca aberta! desde aquela época nao sabia sorrir.