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30 julho 2009

Tempo

Sabidamente, não são os presentes caros dados, as festanças pagas ou os bens comprados que tornam uma pessoa significativa para outra. Tampouco são gestos assim que demonstram o tamanho do gostar. Se fosse assim, muito fácil ter e ser estimado.

Talvez hoje a melhor forma que um tem para mostrar que se importa com outro é lhe oferecendo seu tempo. Tempo de escutar o que precisa ser dito. Tempo de falar o que precisa ser ouvido. Tempo de ficar em silêncio. Tempo para ficar junto, seja lá como e pra quê for.

Pode ser que nesse momemto hiperbólico, hipercibernético, hiperfrenético que se vive a medida das coisas seja essa. Quanto tempo você reserva para algo é a definição do quanto isso é importante para você. Para o que você dedica seu tempo? Para quem você dedica o seu tempo?

Se você for o motivo pelo qual alguém pára o relógio, lembre de dizer um muito obrigado. Em tempo.

28 julho 2009

Porque eu sou máster

São em dias como o de hoje que tenho a certeza de ter optado pelo caminho errado. Deveria ter prestado mais atenção àquela voz interior que dizia 'o negócio é ser freira'. Cisterciana, pra evitar problemas. Porque chega uma hora em que é morbidamente penoso o perceber-se sempre na companhia da frustração.

Vê-se claramente nessas ocasiões que um é máster em errar o tom - falando ou não. Já deveria ter acumulado golpes suficientes para perceber que não importa o quanto você faça ou quanto duro você tente. Não faz diferença alguma. No fim, o que fica é o que não se conseguiu. Encha um saco com todas as vezes que suas espectativas falharam e ali está o produto do seu esforço. Simplesmente indiferente.

Então você olha e só consegue perceber aquele encenação de sinceridade soando como migalhas desbotadas. Não há nada de verdadeiro que se possa alcançar e a displicência é uma constante que você precisa aprender a suportar. Sozinho. Porque é assim que se está.
Não espere que. Não há caminho.

Certos silêncios são insustentavéis. Certas cisões são irremediáveis. Certos abismos são intransponíveis. Certos danos são irrecuperáveis. Certas mágoas são inevitáveis até o momento em que você deixa de se importar. Certos dias são aqueles em que a gente decide ir.



Li, combinou e plagiei daqui: Não, eu não sou insensível. O meu problema é que sinto demais, e aí tudo sai atrapalhado.

25 julho 2009

Tell me more

O dia era da tequila, mas a festa foi do espumante. Tudo meio assim de repente - poderia até arriscar que obra do acaso, que armou um cenário perfeito para que todos pudessem, providencialmente, estarem juntos, no mesmo lugar, fazendo praticamente a mesma coisa. E, todo mundo sabe, contra o Cosmos não há nada que se possa fazer.


Tampouco há muito que se possa fazer para fugir
de um hábito majoritário de nossa região: comer. Onde mais poderia exisitir uma festa em que as pessoas pagam apenas para comer?! Não há nada para ver ou fazer além de comer.
Get the picture: você compra o ingresso, entra em um grande salão e recebe um garfo e um copo. Depois, começa a andar em círculos, passando pelas barranquinhas dos expositores, espetando comidas mil e tomando bebidas mil, num ciclo que só terá fim quando for humanamente impossível ingerir qualquer coisa sólida ou líquida.



Nessa convenção regional de glutões, você consegue claramente distinguir dois grupos de pessoas (ok, três se for criar a categoria dos que não são beijados na boca e fazem a reivindicação publicamente):

- Grupo 1: os comedidos. São os que vão a um tipo de evento desses e comem e bebem - se não moderadamente, que é impossível no contexto - dentro de um limite de normalidade. Eles experimentam vários tipos de pestiscos, bem talvez no máximo até ficarem alegres e vão para casa com seus estômagos cheios.

- Grupo 2: aqueles que não tem noção de limite. São as pessoas que trabalham com metas absurdas do tipo: beberemos X número de taças e só iremos embora depois que o primeiro for no banheiro expelir o fígado pela boca. Nessa leva estão aqueles desprovidos do hormônio que regula o senso de 'meio termo'. Para eles, só o extremo vale. Eles conduzem as experiências quase sempre ao limite e só aceitam o excesso como processo catártico.

Registro do estudo in loco dia 24 de julho, em Carlos Barbosa.

24 julho 2009

Do que se ouve por aí

- Tu é meia panca né?!
- (silêncio) ... é .. sim, um pouco .. mas por que ...?
- é que tu também parece ser viciada em adrenalina ... eu sei como é porque comigo também é assim ..
- todo mundo é viciado em adrenalina, não é?!
- só que tu busca a tua no tipo de trabalho que tu faz.

resposta que teria sido a ideal:
"- Não é bem assim, eu também sou viciada em açúcar. Como horrores. Acabo de vir de um buffet de sorvete e me servi meio quilo de brigadeiro com leite condensado, depois fiquei babando na mesma como o homer simpson. Além de viciada em adrenalina, eu me chapo com doce."

pena que o episódio 'overdose' veio só no fim do dia.

pra evitar que isso ocorra novamente, hoje comecei o estímulo à liberação de serotonina as nove e meia da manhã.

22 julho 2009

Déjà vu

Recebi essa foto no e-mail com o título 'insatisfeito com seu trabalho?' e logo que abri tive um déjà vu da situação. Acho que já passei por dias assim na vida:


vocês não!?

21 julho 2009

Trevas

Se precisasse definir em uma só palavra tudo o que era, a primeira que viria à menta seria confusão. E, de imediato, com ela a certeza da escolha errada. Não era confusão o que havia. Porque o que havia era ciência sobre as intenções, certeza do que desagradara e conhecimento sobre o ponto em que as reações eram geralmente falhas. Desorientação, talvez? Tampouco, embora fosse relativamente novo, no contexto. Quem sabe pudesse resumir como uma sensação de incômodo. O receio de que o filme dos abismos pudesse rodar também naquela tela.

Era preciso, mais do que abrir a porta e deixar entrar, à obra do acaso, estender a mão e chamar para dentro. Naquela dança sob os leques, tão importante quanto dar o primeiro passo era perceber a correspondência do segundo.
O passado inoportunamente não compartilhado jamais poderia ser recuperado. Mas isso não significa, necessariamente, que devesse comprometer todo um resto por vir. Mais tolerância, menos resistência. Qual a fórmula ante essa impressão de falta de sensibilidade? Se um dia após o outro sempre é tido como o melhor remédio, quem sabe, finalmente, viria o aceno.

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20 julho 2009

Dia do Amigo

Aos meus caríssimos:



E o momento biscoito da sorte do dia: Deixe os amigos perceberem quanto você gosta deles. Ao notarem isso, terão a mesma consideração por você.

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18 julho 2009

Fiasco no almoço

Era para ser um almoço normal, na linha 'tenha bons momentos com seus amigos'. Foi isso que pensei quando chegamos ao restaurante de sempre, e fomos recebidos pelo proprietário de sempre, que, como sempre, nos conduziu à mesa onde nos aguardavam os companheiros de refeição - os de sempre.

Pois quando iniciamos o ritual de provação que é montar um prato saudável num buffet que percebi algo errado - a primeira opção (mesmo, ali, junto com as saladas, antes da alface até) eram morangos do tamanho da lua banhados em chocolate. 'Isso, até o fim do buffet, não vai acabar bem' - foi o que pensei ao me abastecer da tão apetitosa surpresa - e confirmei ao me aspergir de pimenta enquanto temperava o resto do pasto logo adiante.

Na hora de pesar o prato, sem surpesa - 10 reais. E isso que não tinha pego carne, nem massa, nem arroz nem nada. Só vegetais (e fritas, ok, porque ninguém é de ferro). Ser saudável custa caro.

Ok, começamos a comer, papo vai, papo vem e, com o cruzar dos talheres, veio uma sensação coletiva de vazio. 'Bah, faltou mais uma linguicinha. Pega lá'? Essa foi a frase fatal. Aí descobrimos que um dos quatro havia gasto mais de R$ 12,00 em seu prato - o que libera, automaticamente, o buffet livre. Preciso detalhar o estrago?! Reprise 1: prato de linguicinha. Reprise 2: prato de fritas. Reprise 3: prato de morangos com chocolate.

Depois de:
a) expulsarmos todos os vizinhos de mesa com nosso escândalo;
b) passar a impressão de que estávamos os quatro com larica;
c) concentrar todos os olhares tortos que é possível um grupo receber de estranhos

decidimos parar com o argumento 'tá no livre do gil' e comer a sobremesa de uma vez, porque quando vários garçons formam um bolinho, começam a apontar pra tua mesa e rir convulsivamente quer dizer que chega,né.

A nosso favor: existe uma pesquisa que mostra que no sábado as pessoas comem 30% a mais nos restaurantes de buffet. Então, juntamos todos os sábados que já fomos nesse restaurante nos últimos dois anos e concentramos o percentual de excesso no dia de hoje. Sabe, otimizar é preciso.
A nosso favor II: oportunidades não podem ser desperdiçadas quando aparecem, não é?! Não é todo dia que existe uma comanda na mesa com buffet liberado.

Definitivamente aquele papo de meio termo não rola aqui. A partir de segunda-feira, só alface e chá verde. Ou jejum total. Dependendo de como for o resto do fim de semana. A ver.

17 julho 2009

Além

De insônia, a madrugada. Sabia ser de suspiros, o dia. Cada um seguido por outro mais profundo, como que tentando aliviar a opressão do peito, do âmago. Tinha dúvidas. Questionava como fazer entender o sim sem resvalar no óbvio e cair no lugar comum dos que não cativam. Mas antes titubeava, ainda em pensamento, sequer lá habitavam as certezas. Seriam as então tentativas de insinuação apenas passos em falso? Porque às vezes fazia isso, de mal interpretar os sinais. Ou seriam todas por de menos claras? Porque às vezes fazia isso, de esperar a adivinhação plena. Não sabia. E em não saber, esperava. E, enquanto esperava, torcia. Por um silêncio a ser compreendido.

16 julho 2009

Sem lugar

Porque às vezes tudo parece vazio e causa aquela impressão de sem propósito. Inútil. Tempo perdido. Esforço em vão. É um azedo ranso que pinta a percepção com sombras e confunde as ideias com reticências. Áspero. Dos momentos onde todo o resto se percebe tragado por um buraco negro e o que sobra é uma indiferença pálida e silenciosa. E não, não há uma perspectiva de futuro com estrada de tijolos dourados pela frente.


Não muito a ver, mas para ler: aqui.

14 julho 2009

Obviamente, bizarro

Encontros do Conselho são bizarros. Obviamente, encontros do Conselho são bizarros. Embora não com sua formação na íntegra ou original, o Conselho cumpriu, mais uma vez, sua sábia missão de guru didático e ensinou uma lição para a vida toda: não se pode colocar o pé na cadeira. O resto todo tá valendo.

Então, divida uma folha em duas colunas e vamos fazer o exercício de marcar pra ver se todos entenderam:

1- Fazer amizades com Kelly, a moça dos drinks, para conseguir doses extras de tequila na bebida, que será misturada com todos os tipos de destilados existentes neste e nos próximos três universos.
(...) pode...................(...) não pode

2- Colocar o pé na cadeira.
(...) pode...................(...) não pode


3- Invadir a festa de aniversário alheia, abusar do pecado mortal da gula com doces e salgados furtados e, de quebra, encher os bolsos com frituras surrupiadas.
(...) pode...................(...) não pode


4- Colocar o pé na cadeira.
(...) pode...................(...) não pode


5- Bolinar pessoas e/ou móveis, atentando contra o pudor com a exposição das 'vergonhas'
(...) pode...................(...) não pode


6- Colocar o pé na cadeira.
(...) pode...................(...) não pode


Porque, gente (aqui incluo todos que não se fizeram presentes, conforme anunciado e/ou combinado), o Conselho também é cultura, né.

13 julho 2009

Não é sexta, mas é 13

Começar a semana com as pás viradas é o que há. Nada melhor do que uma bela

Segunda-feira: dia em que o organismo tem de, numa curta fração de tempo, reajustar seus ponteiros para voltar à labuta cotidiana.

para trazer à tona tudo que se refere ao:

Mau humor: transtorno mental que se manifesta por meio de uma rabugice que parece eterna. Lembra muito o estado de espírito do Hardy Har Har, a hiena de desenho animado famosa por viver resmungando "Oh dia, oh céu, oh vida, oh azar".

Ok, nem tanto. Mas também, esperava-se o que para um dia cujo prognóstico astral diz:

Se você prestar a devida atenção, não apenas perceberá o barulho ensurdecedor das forças trevosas, mas também o ressoar ardente e glorioso do espírito.

Sob pena de despertar a revolta cósmica e o caos eterno, nesses casos só há uma coisa que se pode fazer:

silêncio - sm (lat silentiu) 1 Ausência completa de ruídos; calada. 2 Estado de quem se cala ou se abstém de falar; recusa de falar. 3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamentos. 4 Taciturnidade. 5 Discrição. 6 Interrupção de um ruído qualquer.



10 julho 2009

Sexta-feira

Porque manter-se acordado é preciso.

08 julho 2009

so real, oh so real

é mais ou menos assim:

"... tenta-se apenas ler as entrelinhas, que é por onde pode escapar algo verdadeiro. Por outro lado, enquanto tantos se esforçam para parecer o que não são, as pessoas consideradas sábias admitem serenamente que de nada sabem. O “não sei” passou a ser uma comovente surpresa. Os melhores filmes, as melhores peças, os melhores livros tratam sobre a nossa ignorância, não sobre a nossa genialidade."

De M.M, em ZH (08.07) - na íntegra.

delete

Não gosto das quartas-feiras - aliás, é o único dia que odeio mortalmente. O que não chega a ser uma surpresa, para quem lembrar que a quarta-feira fica no meio da semana. Essa implicância talvez seja pelo fato de a quarta-feira ter algo de determinante no sucesso ou fracasso da semana - ela culmina toda a expectativa de segunda e da terça e funciona como prólogo do desempenho da quinta e da sexta.

Pode ser uma metáfora do inconsciente sobre a fase da vida pela qual cruzo atualmente. Ou tenho cruzado - no ápice de todas as expectativas infanto-juvenis, saindo do momento pré-adulto rumo à maturidade. Porque chegaria a hora de amadurecer, eventualmente, não é?!. Com todo o peso de chumbo que essa constatação pode resumir.

Se, por um lado, não posso olhar para trás e exatamente reclamar diante de um cenário de pós-guerra, por outro tampouco posso me gabar de ter percorrido uma estrada de confetes. Resta um franzir de sobrancelhas e um suspiro do tipo 'tá, e aí, e agora, era para ser assim ou como é que fica daqui pra frente?'.

Vazio e sem resposta, insosso e opressivo, irritante e catastrófico - como só uma quarta-feira de b**ta sabe resguardar.




07 julho 2009

Dá e não dá

Nada há no passado que possa superar o que o futuro trará. Será melhor que você se desapegue o quanto antes das memórias, porque desta forma você terá mais energia e boa disposição para aceitar os desafios atuais.”

Sorry, dear, sou do tipo que fica pra todo o sempre remoendo as coisas. E, mesmo sabendo do risco de tornar-me repetitiva: não há nada que se possa fazer.

06 julho 2009

Muito demais

"É que tinha esse traço recorrente no comportamento - algo com um quê de extravagância. Temperamental-intempestivo, poderia arriscar como padrão em um ou outro caso. Embora ressentisse um pouco a falta de mais controle, era algo que não podia evitar. Simplesmente não podia evitar. Que era uma transparência excessiva quando lhe insinuavam aquilo.
Assumia um tom catedrático para falar, em metáfora, do alazão arredio e indomável - para uns - mas ginete suave para aqueles poucos que escolhia - e assim o permitia. Matáforas não eram seu forte, mas era a única forma que sabia conduzir o auto-explicar.


Com o tom grave do que se pretendem didáticos, tentava elucidar por que lhe eram tão caros aqueles a quem oferecia a confiança - e com que facilidade lhe podiam afugentar e fazer rever a guarda-baixa. Pena não o soubessem. Não o percebessem. Ou, simplesmente, não se importassem em. Não é mais forte quem se mostra menos. Nem mais corajoso quem se expõem mais. Mas de que adiantava a filosofia amadora diante do esquivar, do esgueirar, da não-contrapartida, por mais delicada que fosse.

Como se apoiava muito nas entrelinhas, procurava sempre nas alheias os significados além daqueles revelados pelos fatos. E concluia disso, muito. Certas ou não, eram essas as impressões que colhia. E baseava-se nelas para perceber quando havia se enganado na percepção que julgara correta. Investidas feitas, equívoco percebido, retirada anunciada. Era assim que seria, a menos que mostrassem o contrário."

03 julho 2009

sobre diálogos enuviados

- Sabe. Vai ser sempre diferente. Não é tu e não sou eu. É eu-contigo.
- Pára, não fala assim. Aliás, não sei do que tu tá falando. Que foi que eu fiz?
- É muito mistério, velado. Talvez a gente se entenda melhor assim.
- Tu que fugiu. Fechou a porta.
- Melhor que tu não saiba como é e fique pensando 'pena que não deu' do que ter e se desapontar.
- Ou é porque tu realmente não quer.
- É pelo menos o dobro do que tu imagina.
- Tu é a frustração com que eu vou ter que conviver pra sempre, né?
- E tu, a fissura.

---

E tinha sido assim, o irreal melhorado pela fantasia consciente. A noite era uma daquelas improváveis, com uma sala iluminada pelos tons que vinham da rua repentinamente como cenário pós-aventura. Os sentidos estavam não distorcidos, mas naquele momento aguçados talvez pelos vapores de tudo que havia perpassado pelos copos madrugada adentro. Foi uma barulho qualquer que fez sair do sofá e se postar diante da janela. Em seguinda sentiu a outra presença, vinda rapidamente de alguma peça. Ouviu o som da voz próximo, muito próximo ao seu ouvido. Queria virar, mas sabia que seria inútil. Aliás, será que queria mesmo ou imaginava que quisesse?
Virou. E percebeu o silêncio. Permaneceu virado, agora completamente - o rosto. Só então viu que não havia se afastado. Sentia o calor leve da respiração e viu os lábios entreabertos. Longe ainda. Umedeceu os seus e inclimou-se para frente. Imperceptivelmente. E votlou, com o receio de sempre. "Se tu quiser, eu não me importo". Teria ouvido isso mesmo? Sim, ouviu. Foi aproximando, só para ver o que acontecia. E ali os lábios se encontraram. Ação e reação. E era exatamente do jeito que esperava.

01 julho 2009

Sépia

Recordar é viver, já dizia algum clichê cuja origem não consigo resgatar e tenho preguiça de pesquisar. Não é sem um certo ar misto de espanto, assombro e resignação que a gente olha para trás e começa a lembrar, num exercício que poderia se estender por toda uma tarde.

Lembro mais ou menos quando ia pra escolinha maternal, nos idos de 1980 e alguma coisa (sacou o drama da coroa?!) e não gostava. Pobrezinha de mim, era de poucos amigos - criança de apartamento, que preferia os quebra-cabeças, os livros de colorir e as brincadeiras imaginárias que os filhos únicos conhecem bem.


No colégio mesmo, gostava das aulas - odiava os recreios. Tenho na memória que lá pela 5ª série essa deixou de ser a regra, mas não consigo resgatar nada de relevante que mereça ser citado até o dia em que começou a aula do magistério - que foi quando eu pensei assim: ok, turma nova, ninguém me conhece mesmo, não sabem como eu sou, então posso fazer o que quiser daqui por diante. Foi uma fase vida-nova meio 'hey, look at me'. Era eu quem fazia a disposição das pessoas antes das provas para facilitar a minha logística de transmissão de cola. Era eu quem organizava as partidas de stop nas aulas de química. Era eu a melhor amiga e secretária geral da presidente do Grêmio Estudantil. Bem legais esses três anos.

Depois veio a faculdade, que todo mundo sabe se divide em 'Até o Bahia' e 'Depois do Bahia'. Aos que carecem de explicações, aponto apenas que foi só na segunda metade do curso que se formou o Conselho - com um prenúncio na sala do D.A., uma tarde de cerveja e açúcar, que acabou virando praxe - durante e depois de nossa gestão, aí em qualquer lugar do campus.

Naquela época foi que as coisas começaram a se diferenciar - novos hábitos, nova rotina, nova turma, nova condição no ranking dos economicamente ativos e assalariados. Acho que foram os dois anos com mais pique desde então e talvez para sempre. Mas aí veio um dia que a gente sentou em torno de uma mesa, na salinha do café, antiga sala das cópias do cetel, em frente à sala de aula da Branca, e lançamos a pergunta fatídica: 'tá, e agora?!" Estávamos saindo da faculdade.

Talvez nunca consiga descrever em palavras a tensão daquele momento, a aflição daquela constatação e o mega pânico - porque era tudo junto, misturado e confuso. Queria ter aproveitado mais. Queria que tivesse mais um semestre. Queria ter certezas e só tinha dúvidas.
Tinha, enfim, aquele peso de 'ter que fazer dar certo'. Mas, pior, era o peso do ponto de interrogação. E se não desse? Gente, e se não desse tudo certo?

Isso foi em dezembro de 2004 - passaram-se aí quase cinco anos de muitas curvas e poucas retas. Hoje pode ser que saiba tanto quanto naquela época. Humildade é uma lição que se aprende mais pela dor do que pelo amor. Queria ser, efetivamente, a metade boa do que eu pensava, dizia, projetava.

Tenho a impressão que as certezas não são bens cumulativos.
Não sei se decidi certo até aqui ou se daqui a meia dúzia de anos vou acordar frustrada com tais escolhas - a vida é feita de escolhas, me disse uma vez uma pessoa. Desse balancete ninguém pode escapar. Tudo em seu tempo.

Não sei por quais caminhos isso que a gente chama de vida, destino, acaso (como queiram) vai me conduzir e tampouco sei com quem vou beber minha cerveja - ou tequila, ou vinho - no fim de semana daqui a dez anos. Parte das pessoas mais legais que conheci foi na época da faculdade - a outra grande parte foi em função da profissão que aprendi nela. Saber-se 'não sozinho' ajuda.

Deu tudo certo?

Não sei. Dizíamos na época que sempre dá. Talvez tenha dado. Talvez esteja dando. Talvez eu descubra que não era nada disso. Quem pode avaliar isso - se nada é estaque, se tudo é processo? Nada foi tão bem quanto poderia ter sido ou nada foi tão mal quanto se temia? Se é tudo relativo, estado de espírito, momento, subjetivo demais, como se mensura? Como se sabe? Vai ver a gente não sabe nunca, e a tal serenidade tem menos a ver com o encontrar respostas e mais com o aceitar a perenidade das perguntas. Até porque, se a gente vai parar pra pensar, tem muito pouco que se possa fazer - além de fazer o máximo que se pode fazer.