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15 agosto 2011

Surto a sós

Bom, aí que toda vez que eu viajo tenho um período de sofrimento, o momento do desapego, do sair da fissura. Pode ser uma viagem de dois dias ou de uma semana. O começo é sempre uma abstinência. Vai tudo muito bem na véspera e na própria viagem em si. Mas logo se instala a sombra. Paranoia total, o corpo em um lugar e a cabeça no outro, o de origem. Vai ver é a distância, pois isso cria uma lacuna espaço/temporal onde proliferam os mais variados devaneios e as mais sem sentido das suposições.

Distante e sozinho, um pode fantasiar o que bem entender, conjecturar livremente na mais tortuosa linha de raciocínio que preferir. Mas um também tem que, distante e sozinho, decidir se opta pelo absurdo ou pela razão, se surta ou se põe o pé no chão. É lá, distante e sozinho que um precisa colocar as rédeas naquele incômodo pedaço de si que insiste em tingir toda a realidade de impressionismo. Um precisa decidir como quer voltar dessa viagem, a não-geográfica. E um tem sempre que procurar voltar melhor, mas talvez cuidando para se manter vendo tudo à distância, como se estivesse lá ainda, longe e distante. Sem viajar. Na realidade.