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31 agosto 2009

Scars

Tava aqui pensando - na verdade fazendo um texto, mas aí abriu-se no cérebro, tal qual um pop-up, a seguinte proposição: gente, claro né. pudera eu ser tão esquisita, devo ser a criança mais traumatizada do universo inteiro. veja:

- na escolhinha maternal, eu gostava mais de brincar com os meninos do que com as meninas. e tinha uma professora que me forçava sempre a ir brincar com as meninas e eu odiava muito. mas tinha que ir. e ficava sempre um silêncio tétrico (tudo tem uma origem, sacou).

- minha mãe me forçava a ir pra aula com o cabelo preso em forma de rabo-de-cavalo. e eu tinha vergonha. então passava o recreio inteiro escondida, tentando soltar, mas com medo que alguém visse. não soltava e nem brincava.

- na pré-escola, sofri uma lavagem cerebral tão grande sobre a importância de cuidar bem das minhas coisas que eu pedia pra professora pra ir pro recreio com a mochila. pra poder cuidar das coisas e, caso a porta da sala de aula ficasse trancada pra sempre (?!), eu pelo menos teria meu material.

- uma vez uma colega de aula me ligou convidando pra brincar. eu não queria e disse que estava cansada. foi a primeira vez que lembro com clareza de ser mortalmente criticada por meus pais. dali por diante, todo meu comportamento social foi permanentemente martirizado por eles, pra todo sempre, amém. Exemplos de frases mais ouvidas: tu sempre pega os grupos com as pessoas mais esquisitas, tu não consegue achar um grupo melhor?. Tu abre as pernas muito pouco na hora de correr, por isso não ganha nunca. Tu fala muito rápido, não dá pra entender nada. Tu tem as pernas muito grossas, vou te levar passar elas num torno. E o baile segue nesse ritmo mais ou menos até: tu não acha que conseguiria fazer algo melhor como medicina? Aí então eu simplesmente parei de ouvir.

- aí depois na adolescência, cresci com uma mãe eternamente deprimida e chapada de remédios pra dormir, e um pai, igualmente chapado - só que de cachaça -, que também dormia eternamente - só que pelado e debaixo do chuveiro. Aí então era de um lado 'teu pai não vale nada' e do outro 'não aguento mais tua mãe'. Cresça sã com um contexto desses.

- com já quase cem anos de idade, quando por descuido fica uma embalagem fechada de preservativo em algum lugar visível da casa onde eu estava morando sozinha, às vezes na companhia do primeiro e único namorado bíblico na vida. Pai diz: "o que está acontecendo contigo? quer que as pessoas comecem a te chamar de puta por aí? tu não pensa antes de agir? não vê que esse cara só deve estar querendo se aproveitar de ti? ou tu acha que ele vai querer alguma coisa com uma vagabunda que sai indo pra cama com qualquer um? Tua mãe não era assim."

É meio engraçado lendo assim, até, né. Pelo ridículo das situações. E embora eu não consiga bem formular uma conclusão disso tudo - ou do motivo pelo qual apareceu de escrever isso - pode ser que sejam essas as facetas que um dia vão nos permitir ter uma outra visão das coisas. Mais paciente e mais compreensiva, talvez. Mais bruta e recohida, quem sabe.
E vai ficar assim, pela metade, por que não sei mais além disso - a elaborar ainda.

Check list da semana

Vamos lá, né, como pede uma boa segunda-feira, abrir os portões da utopia e montar uma lista - que sou viciadinha numa boa listagem -, de coisas que eu gostaria de fazer essa semana:

- sentar na área de casa, com boa companhia, boas garrafas, e passar a noite recostada jogando papo fora, falando sobre tudo e sobre nada, sobre todos e sobre ninguém. e ficando em silêncio, que é quando se diz o que falta.

- desligar o cérebro em uma boate mega cheia, ouvindo música techno no máximo do volume e perder a noção da realidade no empurra-empurra de uma pista de dança lotada pra sempre.

- passar uma tarde de domingo na grama, lendo na sombra e cochilando todas as vezes que tivesse vontade.

- receber pessoas em casa para um belo jantar, porque ms. Dalloway está morrendo pra dar uma escapadinha e comprar as flores ela mesma.

- matar uma madrugada no peito e começar o dia seguinte zerada de pendências.

Ópio, em qualquer formato, vicia, né.

28 agosto 2009

Pare. Olhe. Escute.

É das placas de sinalização nas ferrovias, anunciando a possibilidade da passagem de um trem (a mente tem caminhos tortuosos, não?!) que parte o argumento elucidativo / explicativo do post anterior. Porque assim. Discernir é top, é máster.

dis.cer.nir vtd 1 Ver distintamente; discriminar, distinguir, conhecer: vtd 2 Avaliar bem; apreciar, medir: vtd 3 Estabelecer diferença entre; distinguir, separar. 4 Apreciar, julgar: Só se usa nas terceiras pessoas (sobre defectivos).

Aqueles que têm essa capacidade precisam conviver com a dor e a delícia de. Uma vez que se alcance tal estado de consciência, o regresso é impossível. Só resta o próximo passo, que é o exercício da tolerância e da paciência. Respeitar o ritmo e o limite de cada um é algo nobre e que fica lin-do na teoria, mas na prática exige O auto-controle. Porque se algo é tão claro e óbvio para um, como pode ser completamente despercebido pelo outro?!

Todo filme de super-herói tem aquele momento Peter Parker: 'com um grande poder, vem uma grande responsabilidade'. Então que se você tem uma percepção capaz de ir um pouco além do que a das pessoas ao seu redor, cabe de complemento a tarefa de saber lidar com isso valendo-se de uma certa humildadezinha. Básica que seja.

E a boa da vez é a liçaozinha que aparece naquelas plaquetas alaranjadas em forma de xis. Pare. Olhe. Escute - as pessoas. E só depois que terminar o cortejo das particularidades alheias você cruza os trilhos em segurança.

27 agosto 2009

Momento Semente

‘Quando conhecer alguém melhor do que você, dirija seus pensamentos para tornar-se igual a essa pessoa. Quando conhecer alguém tão bom quanto você, olhe para dentro e examine a si próprio’.

Quarta-feira tardia

Porque eu tenho uma implicância mortal com as quartas-feiras. A de ontem disfarçou-se de dia comum - mas era mentira, golpe, armação, porque ela só estava prospectando consequências negativas para o dia seguinte.

Então me ocorreu na memória que as quartas-feiras podem ser traduzidas assim:



... alguém tem uma neosaldina ae ...

26 agosto 2009

Colo

E então eu fiquei doente ontem à noite. Aliás, durante toda a noite. Pensei que a Morte tivesse assumido a forma de um fígado em crise e quisesse, assim, me torturar lenta e dolorosamente de dentro para fora, até a hora do fim. Sofri horrores com uma multiplicidade infinita de mal-estar em níveis até então desconhecidos.
Só encontrei sossego trocando o abraço do vaso pelo colo da mami. Precisei que ela saísse da cama e me embalasse até me fazer dormir. E foi só assim que eu consegui sobreviver. Porque a explicação para isso funcionar sempre deve ter algo de mágico e instintivo, tipo Lei do Universo - e uma das cláusulas deve ser mais ou menos assim: "e, em troca, usarás de bom grado todos os presentes que dela receber". Oh well. Plataforma pode não ser tão fashion, mas uns apliques da boa e velha consideração ainda devem estar na moda em algum lugar.

24 agosto 2009

Eu li um livro

Pois então era fim da tarde quando eu sentei no sofá e li um livro. Inteiro, do começo ao fim, sem pausas. Era de poucas páginas, a publicação, mas suficientes para promover a realização. Não consigo lembrar a última vez em que havia feito isso e por essa razão tenho uma pilha de obras começadas e abandonadas pelo caminho. Poderia aqui escrever, em complemento: "como muitos sonhos e projetos que foram se perdendo topada após topada". Mas quem precisa de conformismo, anyway. Um pouco mais do mesmo? Não.

Auto-piedade pode ser tão devastadora quanto a auto-cobrança implacável. Se a retórica é mansa e desce fácil, mais interessante ainda é descobrir-se ciente. Pertinente é a serenidade. Se não aquela do equilíbrio comedido, que certamente não é perfil de todos, a do conseguir perceber com clareza. Porque as vezes tudo o que precisa é dar um passo para trás e contemplar.

**

Ademais (oi?! não sei de onde surgiu essa), faz já um tempo que preciso postar sobre algo mas invariavelmente resvalo na obviedade. Pois que então resumo em 'férias'. Veio em forma de uma onda de distanciamento que permitu ponderar. Não que o ímpeto tenha arrefecido, porque a intempestividade é uma condição eterna, o mito de Sísifo traduzido em algo que simplesmente se precisa aprender a conviver com. Porque não se pode abrir mão da essência em detrimento de uma pretensa sensação de comodidade. Mas um não precisa encarnar a tormenta como coroa todo o tempo, o pleno domínio de si é absoluto e de qualquer outro jeito se aniquila o exercício de abstrair e introspectar.

**
The chosen one: A hora da estrela, Clarice Lispector. De uma brutalidade rasgante sobre a medonha condição humana que, sim, existe em todos nós.

19 agosto 2009

Leitura recomendada

De novo, aqui.

.

18 agosto 2009

Fear

Se você é do meu time - daqueles que sabem calcular apenas o suficiente para sobreviver no sistema decimal porque a muito custo decoraram os números de zero a dez - vai morrer de medo vendo o que a matemática bem aplicada é capaz de fazer (sim, porque quando a pessoa não encontra uma explicação racional para algo, justifica com um argumento abstrato, como a existência da matemática, por exemplo).

Testem:

17 agosto 2009

Globalização

Você percebe que vive em um mundo de hiperlinks quando:

Num fim de semana viaja até 1875 e finge ser um imigrante italiano, sentando à mesa para comer queijo, salame, pão caseiro e todos os tipo imagináveis de iguarias típicas da região, em uma casa de madeira, à beira do fogão à lenha.

Dias depois, você está no oriente, aprendendo a manusear aqueles tais pauzinhos para comer peixe cru pincelado com temperos inexistentes na cultura deste hemisfério.

E, mais tarde, você está disfarçado de classe média, assando salsichão no espeto, no domingo de meio dia, nos fundos de casa, e colocando a mesa enquanto o marido entra em casa com a travessa do churrasco, como todo e qualquer bom casal suburbano.

Turnê Imagem&Ação, em São Pedro,
no embaldo de 'Mérica, 'Mérica

12 agosto 2009

Ode ao novo

Sempre se recebe no e-mail aquelas mensagens pseudo-queridinhas recomendando que a pessoa aprenda coisas novas, faça pelo menos uma viagem diferente por ano, experimente sabores exóticos, entre em contato com sua espiritualidade e etc. Como se fosse esse o segredo da felicidade. Ou o sentido da vida. Penso que, de tempos em tempos, seja válido a pessoa investir nesse tipo de experimentação. Nem que seja para ter o que postar sobre.

Adepta da otimização que sou, matei tudo isso na noite de ontem. No meio de um evento tão divertido quanto brincar com uma unha encravada, surgiu a ideia de se aventurar pelo mundo. Get the picture: era noite. numa cidade que não se conhece. num lugar cujo nome não se sabe. Num contexto assim, qual a única possibilidade: sair pelas ruas até chegar à rodoviária, obviamente.

Numa simulação de mochilão por algum país de fala eslovena, conheceu-se a pouca hospitalidade da atendente de bomboniere que se negou a trocar o canal da televisão. 'Prefiro olhar o doze', praguejou a bisca - e quase teve seu estoque de salgadinho roubado, em retaliação. Ora bolas, isso é jeito de tratar os turistas? A máxima que 'o cliente sempre tem razão' não deve ter chegado por lá.

Na segurança oferecida pelas portas de uma boa e velha van, foi o momento de experimentar sensorialmente o couro. Uma amostra de couro, aquele de fazer jaqueta e sapato. Só que tingida como se fosse chicletes. Enough said.

Para manter a linha temática da noite, comeu-se carne. De gado, claro. Um boi inteiro, para ser mais precisa. Com as necessidades do corpo satisfeitas, veio a revelação. Madre Teresa de Calcutá assumiu as formas de um casaco casualmente pendurado no assento do motorista e, com seu semblante de dor, veio nos acompanhando no trajeto de volta para casa.

Talvez a expressão de sofrimento fosse porque também ela queria lembrar o que se havia dito ser fundamental procurar no gugou. Porque o aprendizado surge nos momentos mais bizarros e as curiosidades precisam ser satisfeitas, sempre. Afinal, é algo diferencial saber que uma vitoria-regia consegue sustentar sobre a água um peso de até 40 kg.

Noites 'programa de índio' estimulam a criatividade. Superar desafios é o que há.

10 agosto 2009

Para uma boa segunda-feira

Não gosto de música. Sabe-se que não. Por isso, quando eu me remeto a letras de música para resumir a expressão da situação é porque realmente as coisas não estão exatamente bem.

A música do momento é a desse clip aqui.

E a letra está aqui.

Alguém me aponta quem é o gerente dessa encrenca porque quero pedir meu dinheiro de volta. Não era esse show que eu queria ver. Não era assim que muitas das coisas estavam planejadas para ser. Quando é que tudo aquilo que estava na propaganda vai começar a passar mesmo, hein?

Porque, se o espetáculo era esse, não quero mais assistir. Não foi esse o ingresso que eu comprei lá no começo. Levanta a mão aí quem mais sabe como é o pânico de se sentir perdido no meio de um monte de coisas que parecem fora de ordem, menores do que deveriam, mais vazias do que prometiam.

Se vierem me dizer que a responsabilidade de encenar atos diferentes é minha não quero ouvir. Não é a hora. Cada um com seus ciclos e são cinco os estágios de passagem em um processo interno. Estou bem no começo do meu, patinando entre a etapa um e a etapa dois.
E, porque um bom bordão sempre cai bem, há muito pouco que possam fazer. Se, por um lado, a vibe é de ficar sozinha, deliberada e demoradamente divagando, pede também companhia - pra ficar só junto comigo - entende?

Precoce como a maioria das coisas tem sido esse ano, também meu inferno astral parece ter vindo um par de meses mais cedo. Porque essas crises existenciais sempre me acometem no fim de outubro. Espero que não perdurem até lá, ao menos.

07 agosto 2009

atenção

"O descuido é o maior obstáculo do sucesso. Você pensa em grandes realizações e esta imaginação produz grande prazer. Porém, se tal prazer for provocar descuido com os detalhes que conduziriam até lá, bem, você já entendeu..."

É. Eu ando, sim, um pouco descuidada. É, eu ando, sim, meio imaginativa. É, eu ando, sim, com a cabeça em outro lugar. Corda bamba. Meio-fio.

Às vezes você acha que pode, mas no fim o que fazem questão de te apontar é que não, você não pode.

E se você fez tudo ao errado? Todas as escolhas. Ou as que importavam. Erre uma vez entre mil acertos e por qual motivo você acha que será lembrado? Olhe na escala e descubra que você não é tudo isso. Sempre terá alguém pra mostrar quando insignificante você é. Dispensável, descartável.

É sombrio o momento em que você percebe que não existe nada além do riscar itens de uma lista. E não ouse pular uma linha.

Sobre o resto, queria dizer. Melhor, queria que dissessem. Melhor ainda, queria que fizessem. Ali, à disposição, a dianteira.

04 agosto 2009

Se essa música, se essa música fosse minha

Ser assim é uma delícia
Desse jeito como eu sou
De outro jeito dá preguiça
Sou assim, pronto e acabou

A comida de costume
Como bem e não regulo
Mas tem sempre alguns legumes
Que eu não sei como eu engulo

Quando alguém me desaponta
Paro tudo e dou um tempo
Dali a pouco eu me dou conta
Que ninguém é cem por cento
Seja um príncipe ou um sapo
Seja um bicho ou uma pessoa
Até mesmo um pé de nabo
Tem alguma coisa boa

Brincadeira, choradeira
Pra quem vive uma vida inteira
Mentirinha, falsidade
Pra quem vive só pela metade

Pé de nabo, Sandra Paes

02 agosto 2009

Say it again

Embora seja de silêncio, o momento, existe uma necessidade de dizer. De dizer que dessa vez há uma diferença. Muito sobre ciclos já foi escrito - e a vontade de rever essas impressões aparece cada vez que um novo se anuncia. Porque, por mais recorrentes que sejam, e por mais que se passe por eles, cada um é diferente.

Aquele de antes parece que assumiu novas formas - deixou os tons de carmim para aplacar com nuance mais blase. Porque outras perspectivas vieram nesse palco. Ou ressurgiram, como queiram. Porque é próprio das pessoas isso de associar as transições, as mudanças e as guinadas a algum elemento externo.

Tanto faz, amuletos ou muletas - porque estou para os trocadilhos bobos hoje. Então que é assim, com esses elementos, mais fácil de se justificar, de se encorajar, de assumir, de alegar, de mudar, de retomar. Entenda: tudo aquilo que a gente pode dizer que faz a diferença - internamente -, porque cada um é o único agende possível para sua mudança. Aquilo que faltava.

Algo fez a diferença. Remexeu as águas internas. Fez o vendaval. Promoveu o despertar. Claro, porque se permitiu que. Conscientemente. Agora é chegado o tempo de ponderar e amadurecer o que se rascunhará de conclusão. Nem tanto a nenhum dos extremos, porque os quero a ambos, e para conjuga-los é preciso comedir.

E esse momento bom vem com o bônus - ou ônus, enfim, os dois lados, cara e coroa - de um rompante em busca de outro equilíbrio. Reabilite-se.

Eu disse que havia uma diferença.