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29 outubro 2009

Agora sim

Sabíamos todos que esse dia chegaria. O momento de dizer 'agora sim, chega de palhaçada' (os conhecedores da saga podem pular para o próximo parágrafo. aos demais: agora sim, chega de palhaçada é um mantra que temos entoado desde o segundo em que percebemos ser inevitável o dia da formatura - ou seja - o fim de nosso fairy tail acadêmico, regado à cerveja, café e batata frita, e a transição para a vida adulta, séria e responsável. seguimos a ladainha até hoje, mil anos depois, no entanto).

Pois então que terça-feira nós compramos uma casa. (pausa para a releitura da frase. ok, eu espero, não tem problema). Eu e meu espôso estamos adquirindo um apartamento, que está na planta ainda, para daqui a três anos, quando a construção do prédio for concluída, morarmos juntos nele. Então que eu terei uma casa para chamar de minha. Então que nós teremos uma casa para chamar de nossa.

E parece que foi outro dia que eu peguei meu carro, saí de Caxias do Sul e passei a primeira noite oficialmente 'saída de casa'. No silêncio, eu chorei. Não pela apreensão do primeiro dia de trabalho, que seria na manhã seguinte, mas porque, daquele momento em diante, eu trocava o conforto da barra da saia da mãe pelo peso da pressão de ter eu mesma que fazer minha vida dar certo.

Daí decorreram uma série de anos com mochila nas costas, peregrinando de casa em casa, e de térmica na mão, sobrevivendo a uma noite de trabalho em claro após a outra. Não que esse cenário vá mudar em um futuro breve, mas eu tenho uma perspectiva real de que. Acho que é a primeira vez na vida que eu trabalho com alguma ideia de planejamento que não seja completamente abstrata e meramente intencional.

E se não sei muito bem como assimilar esse novo contexto, percebo uma obrigatoriedade em amadurecer. Na contramão, um certo temor do avental da burocracia que vestem as pessoas estabilizadas. Porque o bege não combina, né. Da lista de atributos que já não tem a simpatia e a sociabilidade, se for riscar a excentricidade também complica né.

Ou talvez o 'agora sim, chega de palhaçada' só vá ganhar um novo endereço.

25 outubro 2009

Felicidade

Previa que seria uma noite de excessos etílicos. Não porque esse seja um hábito ou porque meus convivas sejam barra-pesada em termos de copo. Mas, sabe, descontrair é preciso. E todo mundo sabe que meia dúzia de garrafas de espumante são a boa da vez pra dar aquela extravasada, liberar e jogar tudo para o ar (é, às vezes eles acontecem).

Então que entre uma tacinha e outra veio a revelação. Tão simples, tão óbevea e bem na nossa cara, o tempo todo. A fórmula mágica dos dias de sol nas férias, do cheiro de bolo em casa, de um abraço apertado, de uma nota de R$ 50 descoberta no bolso de um casaco pós-inverno - enfim, entenderam o sentido, né.

A receita era aquela. E era preciso eternizá-la com urgência. Tanta era a pressa que, na hora de pegar a caneta, até a escolha da mão saiu invertida. Nada, entretanto, que impedisse o exercício da redação - e assim começou o registro de uma nova era cor-de-rosa e pontuada por smiles e com sabor de confetes de chocolate.

Mas, como o diabo ensina a fazer a panela e não a tampa, veio o elemento-surpresa capaz de colocar tudo a perder: a provocação. 'Tá feio? Escreve melhor, então." Aí a guerrilha começou.

E foi assim que a 'Receita da Felicidade' acabou antes mesmo de propriamente começar, no sinal de dois pontos, rascunhada em um guardanapo molhado de bebida, jogada no fundo de uma bolsa. Incompleta. Uma incógnita. Um mistério ainda por desvendar. Uma missão ninja, quem sabe para um próximo fim de semana.

19 outubro 2009

and the winner is

Esse é pra mim, pela minha ultra mega super desenvolvida capacidade de colocar meus ovinhos na cesta errada. Porque é assim: se eu vejo lá ao longe uma possibilidade que sabidamente não vai dar certo e é ba-ta-ta. Lá vou eu, em um salto triplo ornamental, mergulhando de cabeça naquilo que é fria anunciada e tchibuuuum - me espatifo no chão. Pra não sair das metáforas aquáticas, precisaria teorizar um pouco sobre essa tendência de embarcar em canoas furadas - especialmente nos casos em que sei que não vou dar pé.

Tenho esse lado, talvez meio masoquista, quem sabe, de investir naquilo que não vai dar retorno. Parece uma compulsividade em dar cabeçadas. Repetir os erros não é nada charmoso. É como se sofresse uma atração gravitacional pelo desequilíbrio - claro, ficando o déficit pra mim, obeveamente. E é assim que eu venho disperdiçando tempo, atenção e esforço em sistemáticas problemáticas. Livre arbítrio. É. E odeio saber.

Como sempre tem uma frase feita pra aliviar a pressão de descobrir uma boa conclusão, vai lá: é preciso aprender a não tratar como primeira opção aqueles que tem enxergam sempre em segundo plano.

16 outubro 2009

Momento Clarissa

Acho sempre bem simbólico isso de resgatar do fundo da gaveta o maço de papel pautado, assoprar dele a poeira e, com a solenidade que pede o momento, preparar a caneta-tinteiro para a vinda de uma nova carta. Porque o lado Clarissa tem seus rompantes literários e, vez ou outra, precisa tomar este espaço emprestado.

"Não desde que te conheci, mas desde que te percebi, tenho pontuado meus momentos com tua presença. Reconforto-me contigo no pensamento. É tua figura que me aninha o âmago, tal qual os lençóis, com aquele cheiro de estendidos ao sol em uma manhã de domingo para secar, envolvem-me no embate à espera do sono, enquanto penso em ti. Recriando diálogos travados apenas no imaginário, mas que escorrem entre nós no receio de todo o dia. Ensaiando situações em que diria livremente as exclamações. Planejando as reações que teria se tu me dissesse aquilo que tanto espero se confirmar. Sim, porque eu suspeito. E em cada detalhe busco uma evidência que comprove meu anseio. Mas é da afirmativa que preciso. Chame de insegurança, ou egoísmo, se preferir, mas não me bastam as insinuações. Preciso que me aplaques a vaidade dizendo, uma vez que seja, de tempos em tempos, claramente que sim. Embora vistas com garbo o traje do orgulho indiferente, e que também eu o faça para ti com igual maestria, é de muito que desejo a suspensão do fogo amigo, por breve que seja, para, no lugar dele, um momento de confidência. Sem que haja o que cede e tampouco o que domina, mas um mútuo acordo. Eu para ti e tu para mim. Declaremos tudo que precisa ser sabido e sigamos com nosso modelo. Seguro, então. Porque desse excesso de resguardar pode vingar o frio."

14 outubro 2009

Happy pills

Hau hau hau.
Olha eu, olha eu agora em versão lisa simpson.
Assiste aí:



So help me god. Bless us all.

12 outubro 2009

Nem sempre

Como já previa que fosse ser, não tive qualquer grande revelação nesses dias fora. Pude saborear algumas pílulas de constatações que sempre é válido reiterar e interiorizar.

- de hoje em diante está proibido por decreto menosprezar a consideração alheia. todo mundo descendo agora do super-alter-ego-avantajado e se colocando na condição de mais-um-igualmente-importante-quanto-qualquer-outro, fazendo o favor. Ou quem você pensa que é pra fazer pouco caso daqueles que se importam realmente com você?! E, se não era essa a pessoa que você queria que se importasse tanto assim você, então talvez seja você quem precisa rever alguns conceitos.

- tudo bem que é muito poético dizer que sim, tudo vale a pena. Mas saiba sempre onde você está colocando seus ovos. Ao investir seu foco exclusiva ou prioritariamente em alguém - ou em chamar a atenção de alguém - você certamente deixará de perceber quem está tentando chamar a sua. E isso é uma falha imperdoável.

- se estivesse elencando palavras-chave, entre elas apareceriam: compreensão, humildade, empatia, generosidade e paciência. Talvez a harmonia passe por aí.

- a gente sempre acha que faz mais falta do que realmente faz, especialmente pras pessoas que a gente achava que sentiriam mais a ausência. elas simplesmente dão um jeito sem você. ou esperam.

- peixe grande em aquário pequeno ou peixe pequeno em aquário grande? E não me venha repetir que a vida é feita de escolhas, que isso eu já sei.

04 outubro 2009

Em resumo

Em resumo, é mais ou menos assim que funciona. As pessoas são desdenhosas.

des.de.nho.soadj (desdenhar+oso) 1 Que mostra desdém. 2 Altivo, soberbo.

E tendem a menosprezar tudo aquilo que não concerne a seus interesses particulares.

me.nos.pre.zar
(lat tardio minuspretiare) vtd 1 Depreciar, desprezar, ter em pouca conta. 2 Desdenhar, não fazer caso de.

Ocupadas cuidando de seu egoísmo, esquecem de que, às vezes, poderiam retribuir o grau de consideração que recebem, não por obrigação, mas por generosidade, àqueles que fazem por merecer.

e.go.ís.mo
sm (ego3+ismo) 1 Qualidade de egoísta. 2 Amor exclusivo de sua pessoa e de seus interesses. 3 Conjunto de propensões ou instintos adaptados à conservação do indivíduo.

Mas isso implica numa reciprocidade que nem todos são capazes de ter, ou têm a coragem de demonstrar, ou, ainda, que é apenas fantasiada por um. Surge daí a mágoa da indiferença.

in.di.fe.ren.te
adj (lat indifferente) 1 Que manifesta indiferença. 2 Que não apresenta motivos de preferência. 9 Que antipatiza. s m+f 1 Pessoa que se desinteressa de qualquer religião ou de qualquer sistema político. 2 Pessoa que quebrou relações de amizade com outrem. 3 Pessoa que não tem amizade nem ódio a outra.

E, eventualmente, a ciranda cansa, e o que fica é o vazio do ‘oi, tudo bem?’.

02 outubro 2009

So long

Então que viajar sempre causa um certo alvoroço. Lembro muito de quando era criança e, na escola, as professoras diziam que estávamos 'chamando chuva' naqueles dias em que a turma era insuportável. Bom, o comparativo termina aí, na sensação de estar 'chamando chuva'. Porque arrumar as malas significa pra sempre sentir falta da comodidade do meu santo sofá, da excentricidade de horários que me é peculiar, do iogurte com aveia andando pela casa de manhã e das pessoas com as quais eu já não preciso mais formular frases completas para ser entendida.

Porém, mal posso esperar por sentar a bunda no carro e dar o fora daqui. Todo mundo sabe que trocar de ares É preciso de tempos em tempos e tá na minha hora. É aquela necessidade de quebrar a rotina, de colocar os velhos hábitos no sol e tirar deles o mofo do dia-a-dia, de falar coisas diferentes com outras pessoas. E de organizar as ideias numa revisão do top ten do ano. Que todo mundo também sabe que aeroportos e aviões têm o poder mágico de desobnubilar os pensamentos, e que encher os pulmões com o ar noturno de outra cidade é a melhor prática de renovação interna que existe. E arremato tudo isso com uma baladeeeenha open bar na volta, pouco bom?!

Dessa vez não vou com uma pauta de pontos de interrogação. Vou com uma lista de reticências (tá, vão lá, completem de uma vez, sei que estão morrendo para dizer: 'E com uma pilha de ansiolíticos na bolsa, sua louca demente'). E a certeza de que as respostas são um processo 'obra-aberta' - porque eu perco o leitor, mas não disperdiço o clichê.