"É que tinha esse traço recorrente no comportamento - algo com um quê de extravagância. Temperamental-intempestivo, poderia arriscar como padrão em um ou outro caso. Embora ressentisse um pouco a falta de mais controle, era algo que não podia evitar. Simplesmente não podia evitar. Que era uma transparência excessiva quando lhe insinuavam aquilo.
Assumia um tom catedrático para falar, em metáfora, do alazão arredio e indomável - para uns - mas ginete suave para aqueles poucos que escolhia - e assim o permitia. Matáforas não eram seu forte, mas era a única forma que sabia conduzir o auto-explicar.
Com o tom grave do que se pretendem didáticos, tentava elucidar por que lhe eram tão caros aqueles a quem oferecia a confiança - e com que facilidade lhe podiam afugentar e fazer rever a guarda-baixa. Pena não o soubessem. Não o percebessem. Ou, simplesmente, não se importassem em. Não é mais forte quem se mostra menos. Nem mais corajoso quem se expõem mais. Mas de que adiantava a filosofia amadora diante do esquivar, do esgueirar, da não-contrapartida, por mais delicada que fosse.
Como se apoiava muito nas entrelinhas, procurava sempre nas alheias os significados além daqueles revelados pelos fatos. E concluia disso, muito. Certas ou não, eram essas as impressões que colhia. E baseava-se nelas para perceber quando havia se enganado na percepção que julgara correta. Investidas feitas, equívoco percebido, retirada anunciada. Era assim que seria, a menos que mostrassem o contrário."
0 comentários:
Postar um comentário