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30 abril 2010

Os três pontos

Ele sabia que não pensaria em suicídio, mas sofria de uma infelicidade muito profunda. Daquelas que roubam o fôlego e fazem sumir o chão. Não sentida tristeza, nem desgosto. Nem a irritação ou o mau humor lhes faziam companhia por muito tempo. Tampouco prazer, satisfação ou contentamento davam os ares em seus dias havia bastante.

Dentre as poucas sensações que identificava, talvez a mais forte delas fosse a urgência. Tinha pressa de ver o dia acabar, a semana chegar ao fim. Comia rapidamente para terminar a refeição. Atalhava para chegar logo ao destino. Negligenciava para ver as coisas se resolverem. Ansiava agudamente pelo que vinha em seguida. Pela próxima página. Pela estrada depois da curva.

Porque esse era o único jeito de suportar o hoje, pensando no amanhã. Porque o peso do presente estava ficando simplesmente insuportável. Mas, amanhã, talvez aliviasse. Hoje, caso perdido.

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