rss
email
twitter
facebook

27 abril 2009

Mais do mesmo

Sobre mais um trecho daquele livro que a gente escreve quando dói - a vida.

Então era que havia passado toda a vida treinando para evitar o ato da surpresa. Queria estar sempre um passo a frente. Perceber antes, vendo o que ninguém mais via, entendendo o que era velado. E, de certo modo, até conseguiu um certo apuro de técnica. A dor e a delícia de antever. Com isso sofria sempre duas vezes: a primeira quando descobria. A segunda quando lhe contavam de fato.
E assim tinha sido no dia em que esbarrara de certeza numa daquelas que estavam marcadas para serem as maiores decepções que um pode ter. Que é se perceber menos pro outro do que se pensava ser.
A descoberta viera meio que por acaso - logo esquecida por uma esperança tola de que os fatos seriam diferentes daqueles imaginados. Mas já de início soube que, como era de costume, acertara.

Ali, viu que, se não era nada, era muito pouco. E que, se até agora não tinha conseguido nada muito além de desdém uma falsa estima, muito provavelmente nada mudaria dali por diante. As coisas eram assim, chegava a hora de perceber.
Havia pedido tanto por um sinal que, quando ele veio sob a forma de negativa, parou de procurar por outros. Mas a verdade é uma só e, quando ela decide bater à porta, não há nada que se possa fazer para impedi-la de entrar.

E era com esse aperto no peito e a sensação de ingenuidade usurpada que precisava decidir o que fazer. Chegava a hora de decidir o que fazer, porque as cartas estavam todas na mesa e, a menos que algo de extraordinário sobreviesse em questão de imediato, eram muito poucos os caminhos entre os quais escolher.

Algo havia se partido ali. Não sabia se poderia contornar. Não estava no grau certo de maturidade para lidar com isso. Sentia como se levado uma rasteira. Um tapa na cara. Um dar de ombros. E sabia como era seu íntimo, sabia que não poderia esquecer. A mágoa. Ah, a mágoa. Que com o tempo cria cicatriz grossa, que, quando não doi mais na pele, agride pra todo o sempre os olhos.

A resposta da equação estava ali. Para um, tudo. Para outro, nada. Era só questão de querer ver. E, daí, levantar e ir embora.

0 comentários: