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25 setembro 2009

Indas e vindas

Um lead bem básico, pra começar: na adolescência eu tinha essa amiga, que era muito minha amiga. Foi com ela que eu fiz as coisas mais estrambólicas que se pode fazer nessa fase. Uma sabia muito bem o que a outra gostava - e como a outra se irritava. E ficávamos nesse joguinho, indo de um extremo ao outro, da total cumplicidade ao exercício da indiferença. Até que, por sei lá quais razões, cansamos e cada uma seguiu seu rumo. Foi nesse ano que nos reencontramos virtualmente, seis ou sete calendários depois.

Cenário captado? Aí a boa que rolou esses dias foi num papinho via msn. Disse ela algo mais ou menos assim: que, para nós, ninguém nunca era perfeito. E as pessoas com defeitos jamais poderiam ser perdoadas por tê-los.

Não consigo mais precisar o contexto da colocação, mas achei a análise de uma adequabilidade fenomenal. Porque ela consegue sintetizar extremamente bem algumas das características que são mais marcantes e, por muitas vezes, toda a fonte de mazelas do dia-a-dia.

Há momentos em que falta tolerância e sobra arrogância. A soberba de se achar acima dos outros, além do bem e do mal, com a posse do julgamento mais pertinente e capaz de fazer os melhores juízos de valor. É uma prepotência disfarçada, como se fosse um eterno olhar de solsaio para tudo e para todos.

Então quando a gente se depara com aquela meia dúzia de pessoas que vale passar tempo com, a gente se aborrece muito ao percebê-las falíveis, não cem por cento correspondendo àquele ideal de perfeição que se costuma projetar nesses casos. Aí incomoda muito quando a pessoa, coitada, não consegue corresponder às altíssimas expectativas que cultivamos em relação a ela. E que certamente nunca foram compartilhadas com ela.

Tudo aquilo que parece óbvio para ti nem sempre é aquilo que outro entende como necessário e imprescindível de fazer. Se um não passa seu recado com clareza, como esperar a contrapartida? Quando a conta não fecha, sobra de saldo uma frustraçãozinha aqui, um malentendidozinho ali, um rancorzinho pra lá, uma sensaçãozinha de rejeição pra cá. E tudo aquilo que poderia ser menos complicado vira uma miscelânia de dúvidas e incertezas pré-fabricadas. E, aí, fica a frieza polida.

Com certeza não se trata de perdoar as pessoas por elas terem defeitos - não nesse sentido literal, ao menos. Tem muito mais a ver com construir parcerias do que com autosatisfazer necessidades. O tão-dito e pouco-praticado aceitar as pessoas pede entendê-las ( sem aquele falso espírito de nobreza que apontaria como sugestão fazer o possível para ajudá-las ) e quem sabe até a honestidade de se desfazer um pouco do personagem máster que cada um cria para si e se mostrar um pouco mais naturalmente. Sim, para os outros, aqueles escolhidos a dedo com quem você verdadeiramente sintoniza. Mas, antes, a começar por si próprio.

Reconhecer-se em sua humanidade - de quem tem insegurança, de quem precisa de atenção, de quem quer ter alguém em quem confiar cegamente, de compartilhar, seja o café do fim do dia ou as divagações sobre a vida, de quem quer dizer que gosta e precisa ouvir que é gostado de volta - pode ser um jeito de aplacar essa necessidade de dominância que costuma pautar os relacionamentos. Quem sabe percebendo todos não como iguais, mas como diferentes, sem superiores ou inferiores, seja mais fácil harmonizar isso que nos acompanha todos os dias.

3 comentários:

Caco disse...

Bobagem.
Gente perfeitinha, além de não existir, é o uó!

Bom mesmo é errar. Errar muito, errar grande, errar feio - botar, enfim, um tempero na vida.

Gostei da divagação.
Beijos
CACO

Diário Virtual disse...

"Tudo aquilo que parece óbvio para ti nem sempre é aquilo que outro entende como necessário e imprescindível de fazer."

Disse tudo.

Rochele disse...

Eu semprei fui exigente também e sei como é esperar demais dos outros.
Como o Caco disse errar é super bom. Mas até nisso sou chata: pois os erros tem que ser aqueles que cabem nas minhas expectativas, caso contrário...
Mas estou tentando ser mais boazinha hehehe.
Bjo